domingo, 7 de dezembro de 2025

Por: Matheus Baldi, Istoé Gente

Anitta não vai mais se apresentar no Coachella 2025. A notícia, divulgada pela própria cantora nesta quinta-feira, dia 20, em suas redes sociais, caiu como uma bomba nos bastidores da música e entre seus milhões de fãs ao redor do mundo. “Devido a razões pessoais inesperadas, não poderei me apresentar”, disse ela, em um comunicado direto, elegante e que evita entrar nos detalhes do cancelamento. E talvez aí esteja o ponto mais importante de toda essa história: quando uma artista do tamanho da Anitta, com carreira consolidada internacionalmente e palco garantido no maior festival de música dos Estados Unidos, decide dizer “não”, é porque algo muito maior está em jogo.

A reação da internet foi imediata. Se por um lado houve apoio, por outro, o tribunal virtual dos fãs pareceu esquecer que por trás do ícone pop existe uma mulher, Larissa. A mesma artista que, há dois anos, encantou o Coachella com uma apresentação histórica, carregando as cores do Brasil e o som do funk para o mundo. A mesma que, mais recentemente, tem feito questão de deixar claro que precisa cuidar de si. “Sou extremamente grata ao festival pelo convite, pela compreensão e pelo apoio contínuo”, disse Anitta, encerrando sua nota com elegância e profissionalismo.

Mas para parte da internet, isso não bastou. Comentários começaram a surgir em tom de cobrança e frustração, alguns com críticas veladas, outros com ataques diretos. A maioria não disfarça o incômodo com a nova fase mais espiritualizada da artista: “Tenho saudades da Anitta que tinha sede de sucesso”, escreveu um fã. Outro foi mais ácido: “Fomos nós que a colocamos onde ela está hoje”. O discurso de “dívida” com os fãs se espalha como fogo em palha seca. Mas será que é justo?

Anitta, ou melhor, Larissa, tem dado sinais dessa mudança há tempos. No documentário da Netflix, Anitta: Made in Honório, ela escancarou as angústias, o peso da fama, os dilemas internos. Ali vimos que o brilho dos palcos muitas vezes esconde noites insones, esgotamento físico e mental, crises de identidade. E, agora, no em Larissa: O Outro Lado de Anitta, lançado esse ano, a cantora aprofunda ainda mais essa jornada íntima. O documentário mostra momentos silenciosos e potentes da sua vida longe dos holofotes — as sessões de meditação, os retiros espirituais, a busca por equilíbrio e significado. Larissa fala sobre sua conexão com a natureza, as terapias integrativas que passou a praticar, e como encontrou na espiritualidade uma forma de recomeçar. Revela também como sua saúde mental foi impactada pela pressão constante e como, pouco a pouco, foi aprendendo a colocar limites, inclusive nas relações profissionais. Ela compartilha dúvidas, reflexões, e uma vontade real de existir além da personagem Anitta — algo raro, sincero e necessário.

Há uma passagem do autor Mark Manson, em seu best-seller A Sutil Arte de Ligar o F*da-se, que diz: “Você não pode ser uma prioridade na vida de todos e ainda manter sua sanidade. Em algum momento, é preciso escolher ser prioridade na sua própria vida”. É disso que se trata. Larissa, a mulher por trás da popstar, decidiu, enfim, colocar sua saúde emocional e espiritual acima do cronograma, do glamour e das expectativas alheias. É um ato de coragem.

Quando um fã escreve “ela está jogando a carreira no lixo” por causa de astrologia ou espiritualidade, revela muito mais sobre o medo coletivo de ver alguém bem-sucedido sair da corrida do sucesso do que sobre a própria Anitta. É como não aceitar que alguém possa querer ser feliz fora dos palcos. Afinal, quem ousaria negar o Coachella?

Mas a verdade é que o mundo está cheio de artistas e figuras públicas que, em algum momento, disseram “não” para o barulho e “sim” para si mesmos. Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Rezar, Amar, descreve esse momento como o “chamado interno”, aquele que nos puxa para longe do olhar do mundo e nos leva para dentro. Ela escreve: “Algumas decisões que parecem desastrosas para os outros são, na verdade, o começo da nossa cura”.

E é disso que se trata aqui. O cancelamento do Coachella não é o fim de uma era, mas talvez o início de outra. Uma era em que Larissa, finalmente, começa a cuidar da mulher por trás da estrela. Uma era em que ela escolhe o silêncio ao invés do aplauso, o agora ao invés do sempre, a leveza ao invés da alta performance.

Que bom que Larissa tomou as rédeas. Que bom que Larissa respeita a Anitta, mas também se respeita. Que bom que o sucesso não a impediu de perceber que é possível ser feliz de outro jeito. Que bom que ela entendeu que não precisa se manter acesa o tempo todo para continuar brilhando.

Talvez esse não seja um adeus, mas um “até breve”. Talvez a Anitta volte ao Coachella num outro momento, em outra vibe, com outra energia. Ou talvez não. E tudo bem. O que importa é que ela esteja em paz com suas escolhas. Que fique quem ama de verdade. E para os que ainda acham que a felicidade precisa vir do palco, talvez seja hora de rever o que é sucesso. Porque, no fim das contas, o palco mais importante é aquele em que a gente se apresenta pra si mesmo — sem plateia, sem roteiro, mas com verdade.

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